A família Fonseca nem sempre foi desgraçada. Luiz nem sempre precisou passar as noites afogando-se em álcool para amenizar a dor de ter um filho morto pelo vicio no crack. Bebia a cachaça mais barata que o seu Portuga, dono do bar, tinha no estoque. Não podia se dar o luxo de beber algo mais caro, pois não estava trabalhando tanto quando antes. O seu chefe só não o despedira por pena, eram muito amigos. A cada gole que dava, a cachaça ia dilacerando sua alma, seu espirito. Luiz chorava a noite toda lembrando de como era bom no que fazia, dos amigos que tinha e da carreira promissora do filho. Este que passara na faculdade federal para para cursar medicina. Tinha tudo para ser alguém na vida, tinha tudo para ter o que seu pai não pudera dar, mas foi consumido pela droga.
Dentre essa orgia de emoções que o bêbado sentia, ali no meio, pequena, mas estava, a felicidade, a alegria. Ria sempre que lembrava como era seu apelido na marcenaria: Mosca. Tinha esse apelido pelo efeito que os óculos de proteção causavam aos seu olhos, que estranhamente não causavam mais em ninguém. Seus olhos pareciam dobrar de tamanho quando os colocava, fazendo cair sobre ele uma torrente de apelidos e brincadeiras, mas só um pegou, Mosca. Só que, como a vida de uma mosca, essa alegria logo se esvaia, quando lembrava onde estava, nas condições que estava. Todos os dias eram assim: Luiz trabalhando de ressaca, matando serviço, se escondendo no banheiro, e no final terminava com ele substituindo as refeições por litros de cachaça barata.
Como sua rotina mandava, às 20h Luiz já estava no bar do seu Portuga, para “jantar”. Sentado em frende ao balcão, comia alguns amendoins velhos, que o seu Portuga deixava sobre a mesa, apenas para forrar um pouco o estomago.
Como sua rotina mandava, às 20h Luiz já estava no bar do seu Portuga, para “jantar”. Sentado em frende ao balcão, comia alguns amendoins velhos, que o seu Portuga deixava sobre a mesa, apenas para forrar um pouco o estomago.
Luiz não acreditara. Será que mesmo com essa magreza desumana ele atraíra o olhar de uma mulher?, uma bela mulher. Sabia que não era pena, nem desdém. Estava acostumado a receber olhares de pessoas que fingiam estar preocupados com ele. Mas ela não, ela estava olhando diferente. Ela não olhava para roupa suja, ou para seu cotovelo cortado, nem mesmo para o sinto improvisado com uma corda. Ela lhe olhava diretamente nos olhos, deixando-o até um pouco sem jeito. Então, timidamente, Luiz, levanta o copo e ensaia um sorriso para a moça, que retribui o gesto. Uma felicidade acalentou seu coração. Resolveu fechar a conta no terceiro martelinho.
– Sabe, Portuga!? Tenho que ir. Coisas a fazer, você sabe, né?- O Português entendeu o recado, e confirmou com a cabeça.
– Madame!- Agora com um sorriso, que mostrava os dentes amarelados, Luiz se despedia da moça. Que lhe deu o mais sonoro “até” que já ouviu. Luiz ia para casa feliz, em passos firmes, não mais cambaleando, ou tropeçando no ar, como faria.
No caminho, o estomago suplicava por um pouco de comida, e por sorte Luiz tinha alguns poucos reais no bolso. Passou no armazém, que havia perto de sua casa, comprou uma duzia de pães e duzentos gramas de mortadela. Seguiu para sua casa.
Mesmo o cenário caótico que era sua sala de estar, com tudo jogado pelos cantos, o assoalho de parquê desfalcado, não o desanimava. Sobre a mesa suja e mofada, Luiz pegava um dos poucos pratos que havia no armário. Preparou um suco artificial de laranja e comeu e bebeu com gosto. Dormiu na cama encardida e dura, com o cobertor fedendo, mas feliz. Feliz por um único sorriso sincero que recebeu durante muito tempo. Foi a primeira vez que alguém o olhou como pessoa, e não como um pobre coitado que precisava de ajuda, mas nunca ajudavam. Muitas pessoas pensam que apenas sentir pena, e demonstrar uma pseudo-compaixão jogando alguns centavos para o mendigo na rua, vai salvar a vida do infeliz. Enfim, pegou no sono, e sonhou, o que era o mais raro de acontecer.
– Sabe, Portuga!? Tenho que ir. Coisas a fazer, você sabe, né?- O Português entendeu o recado, e confirmou com a cabeça.
– Madame!- Agora com um sorriso, que mostrava os dentes amarelados, Luiz se despedia da moça. Que lhe deu o mais sonoro “até” que já ouviu. Luiz ia para casa feliz, em passos firmes, não mais cambaleando, ou tropeçando no ar, como faria.
No caminho, o estomago suplicava por um pouco de comida, e por sorte Luiz tinha alguns poucos reais no bolso. Passou no armazém, que havia perto de sua casa, comprou uma duzia de pães e duzentos gramas de mortadela. Seguiu para sua casa.
Mesmo o cenário caótico que era sua sala de estar, com tudo jogado pelos cantos, o assoalho de parquê desfalcado, não o desanimava. Sobre a mesa suja e mofada, Luiz pegava um dos poucos pratos que havia no armário. Preparou um suco artificial de laranja e comeu e bebeu com gosto. Dormiu na cama encardida e dura, com o cobertor fedendo, mas feliz. Feliz por um único sorriso sincero que recebeu durante muito tempo. Foi a primeira vez que alguém o olhou como pessoa, e não como um pobre coitado que precisava de ajuda, mas nunca ajudavam. Muitas pessoas pensam que apenas sentir pena, e demonstrar uma pseudo-compaixão jogando alguns centavos para o mendigo na rua, vai salvar a vida do infeliz. Enfim, pegou no sono, e sonhou, o que era o mais raro de acontecer.
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