terça-feira, 30 de março de 2010

Regras, dogmas e deslocados


        
         É muito engraçado o termo “deslocado”. Não sentir-se acomodado em um determinado lugar, ou com uma determinada situação. Pois, todos os lugares tem seus próprios dogmas e regras, mesmo não escritos. Por exemplo:
         Se você vai a academia, com certeza não é para ler um livro. O máximo que você pode ler é alguma revista de fitness ou livro sobre nutrição, na fila do banheiro, e mesmo assim vão te olhar com a cara torta.
         O Mesmo vale ao contrário: Você não vai malhar em uma biblioteca. No máximo aquelas bolinhas ortopédica, para a tendinite, e mesmo assim vai ouvir comentários do tipo: E ai fulaninho, muito cinco contra um?.

        Em obras, de qualquer tipo, o pedreiro tem que, eventualmente, dar cantadas, ou mandar assovios para qualquer mulher que passe na rua. Chamar os colegas de Puto, merda, viadinho, etc. Mas o arquiteto ou o dono da casa, que são invariavelmente zoados pelas costas, são chamados de doutor ou chefia.
        
      Não são zoados a toa. Nenhum pedreiro, ou algum trabalhador qualquer, odeia de cara o seu chefe, no caso o seu Arquiteto. O ódio começa após uns três dias de obra, quando o arquiteto, que fez quatro anos de faculdade, exerce a profissão a, mais ou menos, 2 anos, começa a achar que sabe mais do que o pedreiro que trabalha nisso a vinte anos. Daí quando seguem, e seguem, as ordens instituídas pelo arquiteto, e a obra atrasa, cai parede, fica 2 graus a mais pro lado esquerdo. É quando todos os que metem a mão na massa passam a odiar o arquiteto. Então por consequência o arquiteto é um deslocado.

        Dogmas estão especialmente claros na musica. Não na musica em si, mas em quem gosta de um determinado estilo. Vou dar dois exemplos:
        Pagodeiros. Quando alguém fala de pagode e ouvi pagode, pensa em alguém com o cabelo tingido de amarelo, vestindo uma roupa totalmente branca. Os sapatos inclusive. Onde mais poderíamos usar sapatos brancos? Em uma festa de pagode, claro.

         Mas tem um lugar onde os dogmas pesam mais!, o som pesa mais. Sim, isso mesmo. No Heavy Metal. O Heavy metal é tão, mas tão barrista que quando o pessoal do Metallica cortou o cabelo, todos diziam que o heavy metal havia acabado.
         Para ser um headbanger você precisa de: Cabelo comprido, camiseta do Iron Maiden, tênis All Star, calça jeans desbotada e uma cara de quem esta pronto para dar porrada a qualquer momento.

        Headbanger que é headbanger odeia punks, mesmo sabendo que uma das influências do Iron Maiden( adora-los também é um pré requisito para ser um headbanger que é headbanger) é a musica punk. Headbanger que é headbanger tem que saber beber, e tem que beber muito. Nada de samba (Coca-cola com cachaça) headbanger que é headbanger tem que beber só a cachaça, só o conhaque, ou um whisky puro. Headbanger que é headbanger não admite ser chamado de metaleiro, pois você chama-los de metaleiro é a mesma coisa que você chamar um motociclista de motoqueiro.

         Por aí vai, desde executivos de jeans rasgados à punks de terno.

domingo, 28 de março de 2010

Viajem



           Não lembro de alguma vez ter visto Ster tão nervosa como hoje. Estamos a caminho de sua cidade natal, para conhecer seus pais. Bom, para eu conhecer seus pais.
          Sempre que olho seu sorriso radiante, penso como tive sorte de ficar com ela.

          Nos conhecemos quando ainda estávamos na faculdade, ela fazia direito e eu fazia cinema. Lembro até a ocasião: Esta eu e um amigo dando os últimos retoques em um roteiro, para um curta que iriamos gravar, e ela entrou com uma amiga, sentou em frente ao balcão. As duas pediram um copo de coca-cola. Diego, meu amigo, me chamou a atenção, dizendo:

         – Ó lá, cara! A loirinha ta te olhando.

         Mas eu estava de olho na Ster. Morena alta, cabelos encaracolados, olhos castanhos, lábios carnudos e com um grande e lindo sorriso. Então resolvi fazer daquele lugar uma cena de musical. Cantada em conjunto que eu e o Diego sabíamos de cor.
        Me aproximei dela, cumprimentei, conversei e perguntei se ela gostava de Élvis. Disse que sim, e não conhecia alguém que não gostasse. Daí, eu emendei e disse:

         – Bom, não quero me gabar mas...canto igual o Élvis.

         Ela riu, disse que era impossível alguém cantar igual ao rei. Fiz um sinal para o Diego, que estava ao lado da Jukebox, e começou a tocar Kiss me quick. Fiquei ilustrando a musica enquanto ela ria muito. Meu comparsa entrou fazendo os backing vocals, foi muito divertido. Nesse dia trocamos telefones. Um mês depois nós estávamos namorando, e eu não queria saber mais de ninguém. Em um ano fomos morar juntos. E agora estamos indo pedir a benção dos pais dela, para o casamento.

         Finalmente chegamos. Eles moram em uma fazendo de, mais ou menos, sete hectares. Já perto da casa, avisto ao longe um homem baixo com um bigode, que se misturava com a barba comprida, usando uma bombacha, camiseta do inter e calçando uma velha alpargata, ao seu lado uma senhora bem arrumada com um sorriso aberto, lindo – Agora sei de quem a Ster puxou o sorriso -. Nervoso pergunto no caminho para Ster:

         – Amor, não tinha dito que teu pai era gremista? - Ela, sorrindo, respondeu
         – Calma, é só pra ver a tua reação.

         Saio do carro, recebo um caloroso abraço da dona Maria e um forte aperto de mão do sogrão. Tentando me enturmar, indago:

         – Ta, mas que camiseta feia é essa?

         O nego velho encheu os olhos de lagrimas e me deu um forte abraço.

        – Entra filho! Vamos tomar um mate.

sexta-feira, 26 de março de 2010

É amigo....

           Atualmente estive pensando sobre coisas que irritam e também sobre alguns empregos horríveis. Então cheguei a conclusão, que muitos já chegaram, a vida não é nenhum pouco justa! Vou dar um exemplo de um emprego, que eu julgo ser horrível: Garçom-cartunista de pizzaria. Nossa! Quando eu pensava em algum desenhista fantasiava um cara barbudo, popular, com um atelier próprio e tudo mais, mas quando eu vejo aquele rapaz anotando os pedidos, com uma cara de quem chupo limão e não gosto, sabe? E então ele pergunta, como se fosse oferecer a bordinha de catupiri: Vai querer uma caricatura também?! Isso é uma derrota inacreditável. Quer dizer, eu acho. Não estou dizendo que é regra, mas pensem: Todo cartunista sonha em ser garçom?

          Fora mais alguns empregos que me deixam fora do sério, tem os empregados que me tiram do sério. Nenhuma empresa, nenhuma pessoa esta livre de ser destratada por alguém. E digo isso com autoridade. Já fui destratado em N lugares, como, por estar em um dia ruim, já faltei com respeito com algumas pessoas. Como disse, tem muitas pessoas que estão em um dia ruim. O filho não para de encher, ta de TPM, chego atrasado e levou um esporro do chefe, são muito os motivos para “justificar” o mal atendimento, mas também tem aquelas que estão ali para serem chatas. Como, para não fugir do assunto, alguns garçons, garçonetes, e outros atendentes estão sempre de mau humor, ou sempre desligados. Por exemplo, eu vou em um bar, levanto a mão e espero que alguém me veja, mas demora, e as vezes demora demais! Tudo bem, o garçom vem, e larga as perguntas que estão no Default de todo garçom, inclusive fico imaginando que para trabalhar nesse ramo, o chefe manda você ler as perguntas : “Querem pedir?” ou “Vão querer uma entrada?” e ver como elas saem. Para ver se você esta apto a irritar os clientes. Essa última - Vão querer uma entrada? - eu tenho convicção de que só pode ser uma piada interna, entre garçons.
           E por ai vai, entre perguntas idiotas, olhares cheios de desdém, e nós clientes que ficamos quietos para nossa comida não chegar cuspida, mijada ou coisa pior.