Cadê?! Maldito Sol! Perdi eles de vista! Tudo foi para o ralo. Coração quebrado. Dilacerado.
Pelo menos é sexta-feira, e isso quer dizer que amanhã não terá aula, que indica que eu não terei que ver a expressão de felicidades daquela pederasta! Junto aquele...aquele....argh!
O que, eu posso fazer? Ele já a conhecia, ela já o conhecia. Eles são grandes amigos. Bem....namorados, agora. O que me resta é voltar para rotina. Vou pra casa.
Sabe. Eu acho que é meu destino ficar desiludido. Destino. Tem gente que não acredita nele, mas eu acho que é uma grande peça que nos é pregada. Primeiro Deus nos cria, depois nos dá total liberdade, livre arbítrio, mas ele se arrepende quando vê o que a gente pode fazer sem um norte, sem ter motivos e como já não tinha volta mesmo ele criou o destino. Para rir um pouquinho de nós.
Que droga. Tudo está conspirando para que eu não fique feliz. O ônibus ainda não chegou. Estou aqui, plantado. Parece que quando estamos irritados, tudo vai mais devagar. Cada segundo pesa mais.
– André?
– hã...Ah. Oi Fê, tudo tranquilo?
– Eu vou bem. Tá indo pra casa?
– Sim.
Fernanda, minha ex-namorada. Nós namoramos por uns 3 anos. Eu gostava dela. Na verdade ainda gosto, mas apenas como amiga, uma boa amiga.
Droga, odeio isso. Ela parece estar me olhando como quem espera que você diga algo. Está, aqui parada. Angustiada. Esperando, esperando...
– E você? Também está indo?- Pronto...pelo menos, a minha parte eu fiz.
– Sim. faz tempo, que a gente não se vê.-
– Pois é.- Não faz isso comigo, por favor.
– Sabe, eu sinto falta de conversar contigo. Parece que desde que terminamos você fica me evitando.-Ela fez.
– Eu? Evitando você? Que besteira Fê. Qual motivo eu teria para fazer isso?-Eu evitava. Teria evitado hoje, se a visse chegar.
Sabe quando nós dizemos, no momento em que vamos terminar um relacionamento: Não é você, sou eu.? Quando eu terminei com a Fernanda realmente não era culpa dela.
Ela é irmã gêmea do Júlio. A gêmea boa e não univitelina.
O Júlio me inferniza desde que eu me conheço por gente, quando comecei a namorar a Fernanda isso só piorou. Todos os dias ele fazia questão de sentar junto a mim no ônibus. A me esperar para irmos juntos para o colégio, recreio. Sempre me ameaçando: Olha aqui. Se tu pensar em qualquer coisa que não seja para o bem da minha irmãzinha...tu tá ferrado mermão! Tá ouvindo?
O estresse era muito grande. Acho que até aguentei bastante tempo com isso...3 anos. E eu paguei de insensível quando terminei com ela. Fui seco. Disse: Fê. Não da mais, acho melhor a gente terminar. Sabe, não é você. Sou eu. E pelo jeito, ela ainda me considera alguém legal, bacana.
– Não, nenhum eu acho.- Que merda. Ela parece tão triste.
– Fê, posso te perguntar algo?
– Claro, o que você quiser.
– Você ficou muito triste quando terminamos?
– Hã?!
– Ficou triste quando terminamos?!
– Sim, bastante. Na verdade não entendi até hoje o motivo de você ter terminado comigo.-é sempre ruim tocar nesses assuntos.
O ônibus. Pena que essa conversa não vai terminar tão cedo. A Fernanda é minha vizinha. Bem, não exatamente a casa ao lado, mas mora na mesma rua que eu.
É...o ônibus está bem vazio. Não vai ter jeito, vamos sentar lado a lado.
– Não...? Foi alguns motivos. Bobos parando para pensar agora.
– É mesmo. Cite alguns deles.-Uau, ela parece nervosa.
– Ah. Você sabe.
– Não André, eu não sei. Mas gostaria de saber. Eu e você tínhamos algo legal- É, ela está nervosa.
– Foi por causa do teu irmão.- Não queria ter de falar isso.
– Tá. Quer dizer que você não quis mais ficar comigo por causa do meu irmão, é isso?
– É! Eu não queria terminar! Eu ainda gostava de você!
Ah não! Ela está chorando! Que droga, agora eu estou sentindo. Primeiro o nariz começa a arder, as narinas dilatam. Eu sinto as lágrimas subirem. Pronto! Perfeito, eu também estou chorando.
– É...é...-Não sai nada. Eu quero dizer algo!
Que abraço gostoso. Quente. Tinha esquecido como era bom abraçar a Fernanda. Esses olhos castanhos esverdeados, marejados das lagrimas. A boca, tão linda. O rosto. Não da para resistir.
Estamos nos beijando. Nos beijando. Reciprocidade. Encaixa...Pera aí! O que eu estou fazendo? Eu não posso ficar com ela. Eu quero a Lu...mas a Lu está com o Rodrigo.
– Hehehe...Fê, muito bom te ver...vou descer aqui!
– Não André. Espera! Não faz isso, são três paradas antes!.
Pronto, saltei. Droga. Nada podia dar tão errado. Ainda bem que estou perto de casa.
Droga, droga, droga...
Droga!
Limpar as lágrimas. Não quero que ninguém me veja assim na rua. Só para melhorar, parece que tem um idiota tentando vender uma buzina na rua. É. Realmente, quando estamos em um dia ruim, cada coisinha parece estar aqui só para não ajudar. O maldito do carro está indo bem devagar. Buzinando. Freneticamente.
– O palerma!
O quê?! Isso foi comigo? O cara me chamou de palerma?!
– Olha aqui o palha...Dani!
– Não, o rapadura! Claro que sou eu moleque! Entra no carro.
Opa, o marido da minha irmã está aqui. O que ele está fazendo aqui?
– Que tá fazendo aqui, Dani?
– Coloca o cinto. Esqueceu que eu e tua irmã iriamos vir passar o fim de semana aqui, cara?
– É verdade. Cade a mana?
--Cade?...Na tua casa né. Nós viemos cedo. Eu fui no mercado comprar algumas coisas para o almoço.
Que beleza. Pelo menos o final de semana vai ser divertido. Com o Daniel, a risada é garantida.
****
Deliciosa. Lasanha do Dani é a melhor. Não é atoa que ele é cozinheiro profissional. Espero só que ele consiga ter o tão sonhado restaurante.
Sabe, não tem coisa melhor, que ficar deitado aqui na rede, sentindo o vento soprar, alisar sua pele, depois de um almoço desse. Acho que depois do meu quarto, os fundos aqui de casa, com a rede, é o meu lugar favorito.
– Dé, tudo bem? Tá com uma cara triste.
– Nada fora do comum, mana.
Nunca entendi o ódio que um irmão sente pelo outro, pois eu e a Ana sempre nos demos bem. Todas as discussões logo se resolviam.
– E como anda as coisas lá na escola? Vai te formar certo, né?- Adoro quando ela expressa esse sorriso, só para alegrar-me.
– É um pouco cedo para dizer, arressem é julho.
– Tá bom. Vou te deixar curtindo aí, e vou lá por a conversa em dia com a mãe.
--Aham. Até.
Que sono. Meus olhos estão pesando. Tanta coisa para pensar, mas nem consigo ficar com os olhos abertos direito.
****
O que é isso? O que eu estou fazendo na escola uma hora dessas? Devem ser umas 23 horas. Não tem ninguém aqui.
Quem é que vem? Parece estar correndo. Correndo em minha direção. Acho que devo correr, será que eu corro? Está chegando perto...é a Luana. Ela está correndo na minha direção.
Ugh! Nossa, que abraço forte!
– Rodrigo, que bom que você está aqui. Estou com tanto medo. O André fica toda hora me pegando, enchendo meu saco. Ele fica me seguindo.
– Rodrigo? Mas eu sou André!
--André! Por que está fugindo de mim?
...Fernanda?
O quê?! Au!
– Para de me chutar! Maluca.
– Acorda André!
– Hã?!
– Acorda André!
Ai...droga, minhas costas doem. Quem é que está me chutando? Dani, só podia ser.
– Vai pra cama cara. Tá ai dormindo, falando sozinho. Anda, vai!, Levanta
– Falando sozinho. Eu não falo sozinho.
– Tu não fala sozinho, mesmo. Falava com a Luana, Rodrigo e Fernanda...Suruba, é?
– A Dani. Me deixa.
Que saco. Ninguém deixa eu curtir nada. Na verdade, acho que foi até bom me acordarem. O sonho estava esquisito demais
– Como assim: Me deixa- Odeio esse som de desprezo na vós dele. Lá vem bronca.- Que coisa de fresco é essa? “Me deixa” O que tá pegando, guri? Tá irritado assim porque?
– Ah, Dani...Você não vai entender.
– Não vou entender, por que?
– Tu é casado, não entende essas coisa que eu estou passando, solteiro. Em duvidas.
– Primeiro: Você realmente acha que eu nasci casado? Eu e sua irmã nascemos casados.
Segundo: “Duvidas”...Duvida se dá ou come, é isso?
– Você está sempre de piadinha...Não é brincadeira o que eu to sentindo!
– Tá, me diz então o que de tão sério, um guri de 17 anos está passando.
– Eu digo, mas eu não quero falar aqui. Vamos lá para o quarto, que eu te conto.
– Já está sem duvidas, né?
– Por quê?
– Quer me levar pro quarto. Saiba que eu sou teu cunhado...o pervertido.
Não tem como não rir do Dani. Mesmo me sentindo triste, sem confiança, não consigo para de rir.
****
– Hmmm...Então esse é o problemão?
– É...sim.
– André, vou te dizer algo que, quando me disseram fez toda a diferença - Lá vem...- é o seguinte: Veste uma calça, toma jeito e fala com essa tal Luana! Cara, não tem coisa mais fácil. O máximo que pode acontecer é ela te dizer não, então vai lá. Mete a cara.
Vou fingir que entendi e agir como se fosse tão fácil fazer isso.
Funcionou. Ele tá saindo do quarto, mas sem antes me dar um abraço de irmão. Sempre faz isso quando quer me mostrar afeto.
Nunca fui bom com abraços.
PIRIRIM! PIRIRIM! PIRIRIM!
Ahn?! Ah! Olha quem está me chamando no msn...A dona Luana. O que será que ela quer? Bem nem importa muito. Não quero ler e não vou falar com ela. Não posso me mostrar disponível sempre que ela quiser.
PIRIRIM! PIRIRIM! PIRIRIM!
Pode chamar o quanto quiser. Vou jogar God of War para ver se fico com mais um pouco de testosterona e tiro um pouco do estrogênio de mim.
PIRIRIM! PIRIRIM! PIRIRIM!
Tá! Eu leio. Que droga.
Luana diz:
Oi, André
Luana diz:
...
Está aí?
Luana diz:
Quando entrar me chama para a gente marcar de se encontrar nesse find.
Encontrar?!
Dedé diz:
Oi...to aqui =D
Luana diz:
André, eu estava pensando...quem sabe a gente não se encontra amanhã? No parque...
Dedé diz:
Claro, perfeito. Que horas?
Luana diz:
Às 14 horas está bom?
Dedé diz:
Claro claro! Estarei lá!
Nossa! Que beleza. Vou me encontrar com ela domingo! E finalmente tomarei tenência! Vou chegar chegando! Pegar ela pelo braço. Olhar nos olhos e dizer: Olha aqui garota...eu vou te beijar..tá?
…
Bem, não exatamente assim...